quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Henrique Senhorini
setembro/2009

Sarau umLugar é diversão sim !
Sarau umLugar é transmissão pra mim !

No meu texto anterior, disse: penso que na Psicanálise a transmissão sempre está em questão. É algo que passa em umLugar.
Não só na relação privada analista e analisando como no público, na teoria, na cultura/sociedade, nas instituições psicanalíticas (incluindo as supervisões).
Para Philippe Julien, a transmissão da psicanálise se dá de duas maneiras, em dois lugares distintos: de um, na experiência dessa prática que é a relação entre um analista e um analisando; de outro, em sua presença na vida pública, via três modalidades: a teoria, as instituições psicanalíticas e as relações que os psicanalistas mantêm com a sociedade em que vivem. Um dentro e outro fora. Segundo Julien, a história da transmissão da psicanálise é a história da "relação" entre esses dois lugares conflitantes que é vivida e concebida de acordo com três maneiras diferentes e inconciliáveis:
a) a existência pública da psicanálise funda sua prática (instituição analítica)
b) não há relação entre prática e teoria (trata-se de experiências particulares analista e analisando)
c) apenas a prática funda a existência pública da psicanálise

E nessa última, prossegue o autor, pode-se dar em três sentidos:
- a prática não cessa de fundar a teoria
- a prática funda a instituição psicanalítica
- a prática funda a presença da psicanálise no público

Nesse sentido, a transmissão da psicanálise se dá através do analisando que se torna analista, mas, não só nisso. Também, através do analista que se torna analisando no público. Uma, num momento resoluto, a outra num momento sem fim.

Sendo assim, umLugar poderia ser pensado como a intersecção desses dois lugares, dentro e fora?
umLugar nosso que viabilize a articulação do saber com o não saber?
Do público com o privado?
Do sagrado com o profano?
E o sarau umLugar posso pensar como a sublimação de uma transmissão mais - diria - engessada, mais ortodoxa?
O sarau como uma reinvenção de transmissão daquilo que foi dito por Freud em alguma coisa de “inédito”, como disse Alain Didier, ou seja em alguma coisa com a qual o analista não pode jamais se acostumar, se habituar?
Foi isso que aconteceu no nosso sarau?
O sarau umLugar foi um flash desse desejo misterioso, “enigmático” que Lacan chamou de "desejo X" que nos levou a ser analistas?
Desejo X, algo próximo do entusiasta e do amador, citados no trabalho anterior?
Desejo X, que segundo Didier-Weill, “tem o poder de poupar o analista de apreender a repetição como fundamento do monótono.”

Não sei. Mas, penso que sim, visto que nosso sarau foi transmissão pra mim !

Um comentário:

  1. Sarau: reunião festiva, geralmente noturna, para ouvir música, conversar, dançar, de finalidade literária. Assistir um filme ... transmitir psicanálise não só na relação privada analista e analisando.

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