segunda-feira, 10 de maio de 2010

"umLugar, uma experiência singular" - Claudia Vigna - Rede Clínica de Psicanálise

   Koan são minúsculos casos, situações ou diálogos paradoxais que fazem parte da tradição zen-budista. O koan zen é como uma chicotada. Sua forma breve nos surpreende nos obriga a nos interrogar e não necessariamente a responder.



UmLugar para a experiência subjetiva, sobrepor-se a tendência desagregadora e segregativa, tão conhecida em nossos tempos pelo propósito coletivizante, para que cada um possa falar de si próprio.



A procura de uma reinscrição, a partir do sintoma de cada um na trama social a ser afrontado através do discurso análitico. Abandonar um sintoma atual de não subjetividade e de uma vida sem desejo e poder arranchar -se com o seu próprio sintoma.


A desfossilização do setting como possibilidade não imposta é bem vinda, pois os efeitos psicanáliticos não dependem do setting, mas do discurso, do simbólico, e sobretudo, da ética, e da implicação e empenho do psicanalista. UmLugar aonde o sujeito seja convidado a dizer o “torto e o direito”, não sob o formato “chá da tarde”, ou “troca de duas palavras”, mas que ali possa se instalar a transferência, daí aperceber-se capaz de qualificar o lugar que ocupa, levando essa “transmigração” do ignorado e do equívoco para onde o sujeito possa ser ele mesmo.


Sem pensar na proposição de que “tudo é relativo” senão podemos chegar muito rápido a uma resposta, marca da contemporaneidade, mas sim acreditando na capacidade e na possibilidade de articular idéias e inquietações. O “Encontro” com a psicanálise descumpre o relativo e nos leva ao questionamento da existência. Roland Barthes, no Seminário “Comment vivre ensemble”, no Collége de France, convoca a palavra idiorritmia – idios: próprio, subjetivo e rhuthmos: ritmo, através dessa palavra que volatiza de forma condensada a probabilidade de irmos de encontro ao nosso pé de jaca/mangueira, dos nossos sussurros e porque não, do às de espadas.


A psicanálise pode ser umLugar, um saber transmissão próximo de transmigração? Mas, migrar para onde? De que modo? Sem ética sem beira? Lacan, no Seminário XVI, cria a palavra êxtimo, combinando externo e intimo, constitui o que nos é mais próximo, embora seja externo, mas designa aquilo de que se trata. Não será disso que falamos na análise? Onde simplesmente convocamos o que está no intestino para o cú?


De qual lugar falamos? De qual aposta? De um lugar a partir do qual possa existir a produção da diferença, e assim fazer dessa inquieta rede clínica uma possibilidade. A ética afrontada não como palavra vazia, mas sim com causa eficiente, pois não podemos ser porta bandeira somente em nome de uma pretensa pureza de intenções, mas se sujar com os “objetos” que a causa. Relançar o Sujeito, que busca insistentemente uma economia psíquica frágil, deprimida, murcha e esvaziada para umLugar singular.

5 comentários:

  1. Parabéns pelo escrito, Cláudia. Se ‘o desejo é o começo do corpo’, como canta Arnaldo Antunes em 'Cultura', a escrita, corporificada pelo desejo, pode conferir por sua vez corpo a uma (re)inscrição – traço, risco (e sempre arriscado) em possibilidade de deslocamento.

    ResponderExcluir
  2. Que outros traços, riscos, risos e escritos produzam ainda mais deslocamentos,

    beijo

    Claudia

    ResponderExcluir
  3. Adorei Claudia! é das "guts"...é da onde o pulso ainda pulsa.. e pu la e pus lálálá...lá, lá, e lá...externo e íntimo como o analista ou tão familiar e desconhecido como o corpo?
    Escreva mais.
    bjo,
    A.

    ResponderExcluir
  4. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  5. "Zusammenfassen": a possibilidade de conciliar, reunir, resumir, mas nem por isso uma síntese.
    Z(S)usa!! Escreverei ...
    bj
    Claudia

    ResponderExcluir