quarta-feira, 26 de maio de 2010

Sarau umLugar Maria Ludmila de Oliveira Mourão

Sarau da Rede Clínica de Psicanálise umLugar apresentado por Maria Ludmila de Oliveira Mourão, filme "Uma Relação Pornográfica" do diretor Fréderic Fonteyne . Um homem e uma mulher procuram uma relação centrada unicamente no sexo. Uma relação a princípio sustentada pela fantasia de cada um. Buscavam uma satisfação, tinham uma expectativa de que nada lhes faltasse, uma preocupação que aquela relação se encerrasse ali, naquela satisfação. Tentam, para isso, levar a relação com a fantasia às últimas conseqüências, atribuindo regras. Não podiam saber um sobre o outro, nome, idade, profissão, telefone... Mas será que isso impediria um envolvimento?

Mesmo seguindo as regras, aparecem brechas. Começa então a surgir um incômodo, algo “estranho e pertubador” ao sentir-se desejada e desejante. É, ser objeto do desejo de alguém, “estar nas mãos do outro” ou “ser tudo para o outro” pode ser angustiante, e, às vezes, mortífero. Foi o que impactou a personagem diante do imprevisto ocorrido. Uma mulher, que sacrificou sua vida ao marido, depositando nele o seu ser, se vê, diante de sua morte, sem saída.

Haverá outra forma de amar? Ou ainda: Será isso o amor?
Tentam então recuar, controlar, se esconder...
Na medida em que se colocam em outra posição, não mais narcísica, e sim faltosa, surge então o desejo, algo do amor...
Os medos e as “caretas” puderam aparecer e com isso também a angústia, o vazio!

Queriam apostar, mas diante da incerteza do que lhes iria acontecer, do que significavam um para o outro, não puderam sustentar essa outra condição, que está para além da fantasia.

O filme põe em cena o amor, suas implicações e impossibilidades. Assunto que insiste e persiste na vida, nas relações humanas. Há, em nossa cultura, uma crença de que existe algo ou alguém que possa complementar, satisfazer o outro, se adequando à sua demanda. Assim, para cada panela haveria uma tampa, de dois se faria um, encontrar a cara-metade, seria encontrar o amor. O amor estaria localizado em uma idéia de completude.

Mas será isso a amor? E o desejo, haveria lugar para ele?

Lacan (1960) relança essa questão colocando o amor como uma metáfora. Amar é, antes de tudo, querer ser amado, correspondido. Há um pedido de que um outro lhe dê aquilo que lhe falta. Mas o que este tem para dar não é aquilo que falta ao outro. Há um engano, um desencontro, uma impossibilidade. Nesse sentido amar seria não responder a esse pedido sem metaforizá-lo, já que o que está no cerne dessa questão é mais da ordem desejante (objeto causa de desejo) do que do desejável (objeto de desejo, que está como aquilo que completa). Responder a essa demanda de amor, no sentido de tentar preencher o que falta, seria matar o desejo, recusando a possibilidade de amar.

Há, portanto, para amar, uma constatação e sustentação a se fazer, que é particular e não sem angústia.


Ludmila 2010

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