quinta-feira, 23 de setembro de 2010

A linguagem do corpo e suas manifestações inconscientes.

A linguagem do corpo e suas manifestações inconscientes.


                                                                           

Nasio, psiquiatra e psicanalista argentino, na França desde 1969, tem uma preocupação em comunicar a sua experiência e a teoria psicanalítica, de maneira acessível e talentosa. Sua visão cativante é sustentada pela escuta analítica e pelo rigor conceitual, despertando no leitor o desejo de aproximar-se do enigma do inconsciente e do corpo como ‘cosa mentale’.

Em Meu Corpo e Suas Imagens, Nasio elabora uma espécie de pêndulo, que ora nos remete ao arquipélago Dolto ora ao arquipélago Lacan. Os primeiros dois capítulos são dedicados a ampliar, com sua concepção pessoal, o pensamento contemporâneo de Françoise Dolto e Jacques Lacan, sobre o enigma do corpo e suas imagens. Dolto com seu conceito de imagem inconsciente do corpo: a relação com a imagem das sensações mais pregnantes de nossa infância, marcadas por um ritmo. Apresenta dois casos clínicos: “A menininha com boca de mão” e “O bebê que cuidava da mãe”. Propõe uma clinica onde a escuta possa ser conjugada em três tempos: observação, visualização e interpretação. Ao convocar Lacan, explora a elaboração do “estádio do espelho” como um problema do eu e do corpo, eu expandido pelo desejo e gozo. “O eu, isto é, a sensação inefável de sermos nós mesmos, não é nada mais que a fusão íntima de nossas duas imagens do corpo: a imagem mental de nossas sensações físicas e a imagem visível de nosso corpo no espelho”. Nasio, nos fala de uma jovem anoréxica que sofre de psicose, e da forma pela qual alucina a imagem de seu corpo, revelando-se uma mental e outra especular. Trata com determinação as questões da imagem do corpo real e imaginário, e evidencia o corpo, mais ainda que o sonho, como a via régia ao inconsciente.

No terceiro capitulo expõe suas intervenções e comparações sobre as três diferenças essenciais entre o “estádio do espelho” de Lacan e o “espelho do narcisismo primário” de Dolto. Apresenta dois quadros comparativos dos dois psicanalistas: um sobre a imagem inconsciente por Dolto e a imagem especular concebida por Lacan; no outro, o impacto do espelho sobre a criança, Dolto teme os efeitos desestruturantes do espelho e Lacan enaltece seus efeitos estruturantes.

No quarto capítulo continua seu trabalho pendular e define o papel das castrações na formação da imagem inconsciente do corpo, e suas patologias com base em Dolto. Examina como concebemos o olhar dos outros na construção da imagem que nos molda em contradição com a realidade das sensações corporais.

Nasio incansável pelo tema do corpo, nos diz que seu maior prazer seria que, no silêncio de cada leitor, existisse a sensação de “encontrar claramente formulado o que confusamente, já sabia”. Então, sua aposta teria sido de um bom jogo inesgotável.


Meu Corpo e Suas Imagens.

Não somos nosso corpo em carne e osso, somos o que sentimos e vemos de nosso corpo.

NASIO, J.-D.

                                                                          
                                                                                                          Resenha de Claudia Vigna

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