segunda-feira, 11 de julho de 2011

Pequena introdução à psicanálise

Por Alexandre Holtmann Pastore

Uma das perguntas mais freqüentes que se faz a um psicanalista, e cuja resposta não é exatamente simples, refere-se ao “o que”. Ou seja, o que é a psicanálise?

Vou tentar responder isso de uma forma menos técnica, porque ela (a técnica) acaba redundando em mais dúvidas para quem é leigo no assunto, quando uma das maiores conquistas da psicanálise, senão SUA MAIOR E MAIS RELEVANTE CONQUISTA, é dar um lugar para o sofrimento humano. Portanto, já começando a simplificar, a análise é uma forma de terapia, que visa o alívio do sofrimento daqueles que procuram esse caminho, ou essa abordagem terapêutica.

As coisas não podem permanecer tão simples, nesse ponto, e tenho que dizer que a análise tem, em comum com outras abordagens terapêuticas, apenas a intenção de promover uma forma de “cura” das situações de sofrimento. As coincidências, contudo, param por aí, exatamente quando começam a ser necessárias algumas explicações, ou antes, esclarecimentos, porque não estamos falando de algo misterioso ou inacessível, mas sim de uma visão singular e muito própria da abordagem analítica. Trocando em miúdos, a análise enxerga e trata como sintomas o que outras disciplinas costumam abordar como “o problema em si”. Quando a psiquiatria, por exemplo, classifica e trata um “quadro depressivo”, a análise busca desvelar as origens desse sofrimento, analisando seus caminhos e pesquisando suas dimensões não explícitas.

Podemos exemplificar esse tipo de situação de uma maneira simples: “suponhamos uma pessoa que tenha um animal de estimação. Ela tem grande amor por esse animal (aqueles que têm seus “pets” sabem bem do que estou falando!). Elas criam muitos vínculos com seus “amigos de outras espécies”. Vamos supor um caso específico em que esse vínculo afetivo possa estar “encobrindo” ou “tirando do primeiro plano” uma outra falta: uma ausência familiar, uma infância com poucas coisas boas a lembrar, a distância ou a falta de uma pessoa amada. Sabemos ainda que um dos problemas das relações com nossos amigos “peludos” é que eles, geralmente, vivem muito menos do que nós. E um dia, seguindo a ordem natural das coisas, perdemos nosso amigo do peito! A pergunta que cabe aqui, analiticamente falando (lembrem-se de que estamos falando de uma situação simples, mas absolutamente possível) é: “Quantas dores choramos ao sofrer pela perda desse amigo?”A resposta mais objetiva é: tantas quantos caminhos nossos afetos tenham percorrido e simbolizado nesse amigo que se foi. E quantos apelos esse amor que nos foi dedicado pode evocar? A constância, a lealdade, a fidelidade, o “para sempre”, o incondicional. Quantos vazios e quantas carências podem estar inseridos nessa perda e nesse “amor”? E quanto se perde quando ele se vai?”

Esse tipo de pergunta não tem resposta universal, nem única, nem visível ou direta. Pessoas são seres únicos, com histórias únicas, com amores únicos, com reações que nos diferenciam, que nos tornam singulares e distintos diante do mundo, dos fatos, das “coisas da vida”. E as produções e sintomas criados pelo curso singular e próprio, nesse rio encravado nas almas de cada indivíduo é a parte do mistério, das dores e dos sofrimentos que a análise procura desvelar.

O curso de uma abordagem analítica é o de perseguir o que não está à vista, o que não foi dito, o que não foi possível de perceber ou entender. Os sintomas são a conseqüência que se produz quando as emoções não ganham o acesso à ação ou à palavra, e aquilo que “desaparece” quando se promove esse encontro com o que foi “preciso” esquecer.

Quem já passou por uma análise pode atestar que, em certo sentido, o caminho de uma análise é auto-explicativo. Cada indivíduo que atravessa o curso de uma análise pessoal acaba por entender muito da sua própria dinâmica psíquica, e ganha a condição de se perceber em seus desejos, sofrimentos e sintomas a partir de uma nova perspectiva.

Esse é um convite que se pode fazer a quem passa por uma situação difícil, que se sente sofrendo e quer “se livrar” desse sofrimento. A análise é uma via real, uma oferta de escuta do singular e de apropriação de um espaço que foi perdido durante a jornada, mas que pede passagem na forma de sintomas e sofrimento.

Longe de esgotar esse assunto, que como eu comecei dizendo, está longe de ser simples, gostaria de inaugurá-lo, como um convite a uma segunda olhada, a uma atenção especial e uma consideração muito importante àqueles que estiverem em busca de um lugar para sua dor.

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