sábado, 21 de março de 2009

Rede Psicanálise e Transmissão - Carmen Lucia Heldt D'Almeida

Carmen Lucia Heldt D'Almeida


umLugar Rede Psicanálise e Transmissão - umLugar


Rede – entrelaçamento de fios, malhas, tela…
Rede de computadores – grupo de computadores conectados por cabos que utilizam programas comuns e permitem compartilhar as informações e os dispositivos existentes.
Cair na rede – deixar-se apanhar ou envolver de tal forma que se torna difícil desvencilhar-se e talvez descomprometer-se.

Pensando metaforicamente, a rede constitui nós e linhas numa trama cujos encontros não se esgotam assim como os vazios.
A nossa proposta é de lançar novos pontos de encontro tal como uma rede e relançar...
Ponto de partida (tome a palavra!!), para pensar a psicanálise, acolher idéias, propor novas formulações e produzir interrogações sobre a prática clínica.

Transmissão em psicanálise? Onde? Na produção do analisante no tratamento, na supervisão, no ensino, nas produções teóricas; cada uma solicitando uma abordagem específica e todos diretamente implicados com a articulação complexa entre saber e verdade (embora “sabemos” que no lugar da escuta o analista faz-se de surdo a este saber).

Lacan dizia, “(...) é claro que do saber suposto o psicanalista nada sabe (...). Isto não autoriza de modo algum a se bastar saber que ele não sabe. Pois o do que se trata é do que ele tem que saber”.

Penso que a aposição de quem transmite esteja relacionada com a possibilidade de oferecer caminhos para pensar a psicanálise, caminhos, recaminhos, como uma trama, aqui amplificados na idéia de rede.

Nessa direção, a transmissão pode ser vista como algo mais além do simples ensino, ela articula o saber do psicanalista ao não saber inerente ao
$ (barrado). Costurando assim com a linha (eixo) e os vazios.

Daí Lacan ter insistido no fato que cabe a cada psicanalista reinventar a psicanálise. Dizia que a transmissão viesse a produzir efeitos. Situou a transmissão como algo a ser refeito continuamente como uma formação cuja característica principal talvez seja o inacabado.
Mais uma vez aqui pensando numa rede com suas malhas nunca fechadas e necessárias, para que assim sirva-se de rede.

Aproveitando os novos encontros por outras dinâmicas e percursos, pensemos na Maria Montessori (1870/1952). Montessori propõe em “A Pedagogia Científica”, a articulação de três momentos, que ela chamava de lição de três tempos, para que houvesse aprendizagem: apresentação, elaboração e a conclusão (enunciação - enuncia um saber), que nos permite repensar os três momentos lógicos da análise com rede x psicanálise x transmissão (o momento de olhar - sabe-se, momento de compreender e o momento de concluir – sujeito da enunciação).

E permitindo um último encontro à Fernando Pessoa, apresenta-nos ele “A Múmia”.

“De onde é que estão olhando para mim?
Que coisas incapazes de olhar estão olhando para mim?
Quem espreita de tudo?
As arestas fitam-me.
Sorriem realmente as paredes lisas.
Sensação de ser só a minha espinha.
As espadas”.

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